Nova plataforma “SATO” permite reduzir os consumos de energia no setor dos edifícios

Constata-se que a maioria dos consumidores e gestores de edifícios, da União Europeia, não consegue avaliar o consumo de energia dos seus edifícios ou dos seus equipamentos. Com o consumo de energia na União Europeia a aumentar e com os objetivos de eficiência energética, fixados para 2020, a revelarem-se inatingíveis, torna-se impreterível incrementar a consciencialização do utilizador para o consumo de energia, revertendo a tendência que se tem vindo a verificar. Depois de aumentar a qualidade e acessibilidade da informação sobre o consumo de energia será necessário avaliar a sua magnitude, comparando-o com um consumo de referência, e identificar as melhores ações para o otimizar, preferencialmente de forma automatizada, através de capacidades de autoavaliação e otimização.

É sob esta premissa que surge o projeto SATO – Self Assessment Towards Optimisation of Building Energy, coordenado pelos Professores Pedro Ferreira e Guilherme Graça, da Faculdade de Ciências, da Universidade de Lisboa, e financiado pelo programa Horizonte 2020, da Comissão Europeia. Trata-se de um consórcio, constituído por 17 parceiros, de 7 países europeus: Portugal, Áustria, Dinamarca, Espanha, Grécia, Itália e Suíça, que têm uma visão comum, a avaliação da utilização de energia, na vida real, que inclui todos os equipamentos consumidores de energia no edifício, através da criação de uma nova plataforma e serviços de otimização energética, para os utilizadores do edifício (residentes, gestores de instalações, etc.). O consórcio inclui parceiros académicos, como a Faculdade de Ciências, da Universidade de Lisboa, a Universidade de Aalborg, o Instituto Politécnico de Milão, assim como parceiros industriais, como a EDP, Sonae/Worten, Siemens, Vieira&Lopes, Knauf, EK Energiekonzepte AG, CYPE Soft SL, CORE IC e a Xtel Wireless. Contabilizam-se alguns parceiros do setor público, como a Agência Municipal de Energia do Seixal, a Frederikshavn Boligforening, ou mesmo o Município de Milão.

No concelho do Seixal serão desenvolvidos dois projetos - piloto, um deles a acontecer no edifício dos Serviços Centrais da Autarquia e outro em 50 edifícios residenciais do concelho.

Deste modo, pretende-se desenvolver uma plataforma de avaliação e otimização de energia, através da integração de recursos de computação e gestão de dados, baseados na nuvem, recorrendo a ferramentas 3D, baseadas em BIM – Building Information Modeling, e sensores e dispositivos IoT, ao nível do edifício. Os mesmos permitirão fornecer uma visão precisa do desempenho energético dos edifícios e dos seus equipamentos. O projeto desenvolverá e demonstrará soluções que, independentemente do tipo de edifício, podem fornecer capacidades da Internet das Coisas (IoT) a equipamentos, mesmo os que anteriormente não possuíam conectividade, integrados na plataforma de gestão SATO. Esta solução aumentará o potencial de gestão energética inteligente dos edifícios, permitindo obter serviços de gestão, como a eficiência energética, serviços de conforto e de flexibilidade energética.

O projeto segue uma arquitetura modular, com uma estrutura multi-camada, que permite uma interação, do tipo  fim-a-fim, entre utilizadores e gestores. Para isso, os objetivos do projeto passam por: avaliar, otimizar, disponibilizar interfaces 3D interativas e testar as metodologias de autoavaliação e otimização dos recursos energéticos, em tempo real.

O desenvolvimento e teste da plataforma SATO será efetuado com recurso a 8 edifícios piloto, dos setores residencial, serviços e retail, em três regiões climáticas: mediterrânica, europa central e norte da europa. Os projetos piloto visam demonstrar a integração dos sistemas de geração e consumo de energia elétrica, através das soluções SATO, em diversas tipologias de edifícios e em diferentes regimes climáticos.

Em termos de inovação, o consórcio procura criar: (i) um sistema de interface com utilizadores, baseado em BIM, (ii) uma plataforma integrada de computação e gestão de dados, baseada na nuvem, para controlar e monitorizar dispositivos IoT, ao nível do edifício, (iii) um sistema de inteligência artificial para realizar avaliação e otimização autónoma (SA&O) dos recursos energéticos do edifício, incluindo equipamentos e eletrodomésticos, (iv) um serviço de avaliação do desempenho energético de eletrodomésticos, ao longo da sua vida, em utilização real, (v) avaliação do indicador de potencial de gestão inteligente dos edifícios (Smart Readiness Indicator – SRI), (vi) deteção dinâmica da ocupação dos edifícios, que permitirá o diagnóstico do desempenho do edifício, em regime de utilização real e, (vii) utilização do conceito de bateria térmica do edifício (Building As Battery - BaB) e do carregamento de veículos elétricos, para armazenamento de baixo custo e flexibilidade de energia.

Com uma duração de 48 meses, com início em outubro de 2020 e término em setembro de 2024, o consórcio espera ver os impactos do projeto refletidos nos 8 pilotos de demonstração, em várias vertentes: (i) um total de mais de 2 GWh de economia de energia primária, por ano de operação do edifício; (ii) desencadear mais de 8 M€ de investimentos em energia sustentável e tecnologias de construção inteligente; (iii) implementar a visualização baseada em BIM, em tempo real, do desempenho energético e do consumo de energia; (iv) implementar um sistema automatizado, visando atualizar, continuamente, o Smart Readiness Indicator (SRI) dos edifícios; (v) redução de 15% no consumo de energia e custos de energia.